Morada dos Baís
Foto Antiga da Morada dos Baís
O SOBRADO
1913
Bernardo Franco Baís começa a construção do segundo sobrado do contexto urbano de Campo Grande, o primeiro edificado em alvenaria, com argamassa de saibro, cal e areia, coberto originalmente com telhas de ardósia (formato 40 x 40) vindas da Itália.
O autor do projeto foi o engenheiro João Pandiá Calógeras, e a construção foi feita pelo Sr. Matias, imigrante italiano, acompanhada pelo próprio Bernardo Franco Baís.
A obra, concluída em 1918, passou à residência da família até 1938.
1937
Lídia Baís pinta os painéis nas paredes do Sobrado. A sala azul era o quarto de Lídia, intitulada Sala Mística. A sala rosa, Sala das Paixões.
1938
Bernardo Franco Baís falece, com 77 anos, quando sua família muda-se para outro local. O prédio é alugado a Nominando Pimentel (oriundo de Rio Brilhante), que instalou no local a Pensão Pimentel, que funcionou, com sucessivos proprietários, até 1979.
1974
Em 29 de junho, ocorre um grande incêndio no prédio, destruindo todo o madeiramento da cobertura, telhas de ardósia e pisos de madeira.
Na reforma, pela impossibilidade de se conseguir as telhas originais, a cobertura foi feita com telhas de barro tipo francesa.
1979
A Pensão Pimentel deixa de existir, sendo o prédio destinado a diversos usos comerciais: sapataria, escola de rádio e TV, casa lotérica, alfaiataria, até entrar em período de abandono e depredação.
1986
Em 4 de julho, o prédio é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural do Município, através do Decreto n.º 5390, do Prefeito Juvêncio César da Fonseca.
1993
O SEBRAE/MS, através do Projeto Turismo Responsável, forma parceria com a Prefeitura Municipal de Campo Grande para revitalizar o prédio, após negociação e permuta do imóvel com os herdeiros da família Baís, passando seu domínio ao poder público municipal, através do Convênio de Cooperação n.º 13, de 14/10/93, firmado com o Executivo Municipal. Coube ao SEBRAE/MS a concessão de uso do prédio, por cinco anos, para implantação do Centro de Informações Turísticas e Culturais, destinado, esse importante espaço, ao uso da comunidade.
1994
Em 26 de agosto, em comemoração ao aniversário da Capital, a Empresa de Correios e Telégrafos lança um carimbo alusivo à data contendo a figura da fachada do prédio. Esse carimbo foi utilizado durante vários meses em todas as agências do País e do Exterior.
1995
Em 17 de maio, é inaugurado o Centro de Informações Turísticas e Culturais, através de trabalho conjunto SEBRAE/MS - Serviço de Apoio à Pequena Empresa em Mato Grosso do Sul com a SEMCE - Secretaria Municipal de Cultura e do Esporte, Instituto Histórico e Geográfico de MS, UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Pró-Cultura - Marketing & Telemática.
BERNARDO FRANCO BAÍS
Bernardo Franco Baís nasceu na cidade de Luca, na Toscana, região norte da Itália, no ano de 1861. Veio para o Brasil aos quinze anos de idade. Inicialmente, morou em Campinas (SP) e de lá veio para Mato Grosso para estabelecer-se no arraial de Campo Grande, em 1879. Casou-se com Amélia Alexandrina, filha de fazendeiros da região de Coxim, nascendo dessa união nove filhos, sobrevivendo sete: Celina, Ida, Lídia, Júlio, Orfeu, Bernardo e Amélio. Começou a vida mascateando mercadorias transportadas em lombo de burro, aventurando-se pelos sertões. Abriu comércio em Campo Grande. Fez fortuna pelo trabalho.
Foi sócio-proprietário da importante casa comercial WANDERLEY, BAÍS & CIA, localizada no Casario do Porto em Corumbá (MS). O empreendimento foi instalado com muito luxo e requinte. Bernardo foi à Itália, comprou um navio a vapor e com ele trouxe para Corumbá todos os equipamentos e mercadorias para a inauguração.
Posteriormente, o vapor Iguatemy passou a fazer fretes para Assunção e Montevidéu, até entrar em funcionamento a ferrovia (1914), que ligou, inicialmente, Porto Esperança a Bauru, deslocando aos poucos a rota comercial.
CURIOSIDADE
O traçado original da ferrovia não previa uma curva que levaria os trilhos a passarem em frente do solar dos Baís. Através de relatos do Sr. Aparício Dorneles, descobriu-se que Bernardo Franco Baís solicitou e foi atendido pelo engenheiro construtor da obra que colocou a linha férrea próxima à residência.
Em 19 de agosto de 1938, Bernardo, aos 77 anos de idade e com problemas de audição, foi atropelado por uma locomotiva da NOB, que seguia para São Paulo, quando atravessava os trilhos perto da passagem de nível da Rua 15 de Novembro, em direção à casa dos filhos. Faleceu no dia seguinte.
LÍDIA BAIS
22.04.1900
19.10.1985
Filha de Bernardo Franco Baís, destacou-se desde cedo pelo seu temperamento rebelde aos padrões da época. Dizia a seus familiares: "Por minha causa vocês vão ficar na história".
Com quatro anos de idade, quis estudar em colégio salesiano em Assunção, junto com as irmãs Celina e Ida. Aos sete anos, começou uma peregrinação por vários colégios, começando por colégio de freiras no Rio Grande do Sul. Ainda pequena, morou na Itália por mais de ano com sua família. Na volta, foi estudar no Colégio Batista no Rio de Janeiro, por pouco tempo (sete meses). A seguir, veio para Itu (SP), onde reclamava muito do frio e da saúde abalada. E de lá foi para São Paulo (SP), onde se dizia "anêmica".
Na realidade, simulava situações para chamar a atenção, demonstrando vez por outra conduta voluntariosa, carente, rebelde, transparecendo insatisfação com o mundo ao seu redor.
Após dez anos de esforços dos pais, já adolescente, Lídia voltou para casa. Embora de figura franzina, não se intimidava nem se submetia às lições domésticas e dos colégios por onde passou.
Aos vinte anos, convenceu o bondoso pai a deixá-la estudar novamente no Rio. Embora de figura franzina, não se envolveu com divertimentos próprios da idade, evitando aproximação com rapazes, tendo até certo medo de intimidade com homens.
Durante a passagem pelos colégios, aprendera pintura e piano. Seus primeiros quadros a óleo foram pintados por volta de 1915. No mundo das cores, telas, tinta e pincéis, encontrou sentido na vida. Mergulhou no sonho para justificar sua liberdade incompreendida.
Na década de 20 estudou pintura no Rio de Janeiro com os professores Henrique Bernadelli e Osvaldo Teixeira.
Em 1925, aproveitou a viagem de estudos à Europa, do cunhado médico Dr. Vespasiano Barbosa Martins, indo em companhia da sua irmã Celina morar em Berlim e, posteriormente, em Paris.
Interessada em aperfeiçoar sua técnica e estilo de pintura, passou a freqüentar também museus, fez contatos com outros artistas, inclusive Ismael Néri, que também se encontrava na França. Nessa incursão, recebeu forte influência do expressionismo e do surrealismo, rompendo com o estilo acadêmico adotado nas fases anteriores.
De volta ao Brasil, estimulada pelo mestre Bernadelli, realizou no Rio de Janeiro uma exposição de pinturas a óleo, com pequena duração.
Tempo depois, foi morar em São Paulo na casa do cunhado Dr. Vespasiano, de onde, contrariando a família, fugiu para o Rio, passando a morar num hotel, para cursar Belas Artes. Essa atitude resultou no corte da ajuda financeira; mesmo assim, sem que Lídia soubesse, suas dívidas eram pagas pelo pai, apesar das suas queixas de abandono.
Demonstrando fragilidade emocional, é espoliada, envolvendo-se com pessoas inescrupulosas, que diziam ser espíritas. Praticou o jejum, sofrendo ameaças terríveis, mirabolantes, desembocando num quadro de desestrutura mental, onde relatou entrar em transe universal, recebendo revelações de vários santos e apóstolos.
Devido à situação crítica (não comia, não vestia, chorava e orava, tendo visões de perseguições de maus espíritos), Lídia foi por várias vezes internada para cuidados médicos.
Foi longo o caminho da recuperação. Depois de muito carinho, compreensão dos familiares, remédios e ajuda clínica, sentiu-se bem e voltou a São Paulo, onde organizou uma exposição de seus trabalhos, com a ajuda do seu mestre, e principalmente do poeta e amigo, Murilo Mendes.
Na década de 30, retornou a Campo Grande, sentindo-se deslocada: "Fazer o que nessa aldeia?".
Levada pela imaginação e inspiração artística, pintou os painéis nas paredes do sobradão, sob os olhares complacentes do pai e muitas críticas de pessoas "comadres", pela ousadia de três figuras nuas, em face dos preconceitos da época.
Tempos depois, já com outros moradores, essas pinturas no sobrado foram encobertas por tinta a base de cal, sem que se conhecesse o autor desse ato lamentável.
Com a perda do pai, em 1938, a família mudou-se para um sobrado na Rua XV de Novembro, esquina com a Rua do Padre. Lídia foi fechando-se cada vez mais em seu mundo "bebendo água de muitas religiões", onde encontrou seu apoio.
Em 1958, com o interesse de organizar um espaço para suas obras, chegou a escrever uma carta ao então prefeito de São Paulo, Ademar de Barros, pedindo auxílio financeiro para montar o Museu Baís, oferecendo em garantia propriedades herdadas na Vila Progresso, Hípica e Chácara Bandeira, muitas das quais acabou dando, outras foram presenteadas aos criados, algumas tomadas por espertalhões, pois não tinha apego aos bens materiais.
A velhice chegou, trazendo o desânimo e desinteresse. Cercada de muitos animais de sua estimação (gatos, cachorros pequineses), Lídia se isolou, recebendo raras visitas. Para seus males, os chás caseiros eram os "santos remédios".
Enfraquecida e apresentando sintomas de esclerose, Lídia sofre um tombo. Acamada, foi definhando em silêncio, recusando tratamento médico. Assim, deixou esse mundo aos 85 anos de idade.
Sobre sua obra e vida, Maria da Glória Sá Rosa, escritora e membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte, escreveu: "Já disse alguém que arte é excesso, invasão de terrenos proibidos, libertação de cadeias, preconceitos, restituição do homem à idade da inocência. Ao artista tudo é permitido. Por isso, não se pode cobrar dele posições, atitudes racionais. A contradição é uma norma, a ambivalência, seu traço distintivo".
Lídia Baís, artista do nosso tempo, tem uma obra condizente com sua personalidade. Ali se alternam o orgulho e a humildade, o belo e o horrível, o sonho e a realidade. Sua obra tem de ser amada, apreciada, saboreada. Tentar explicá-la é inútil. A própria Lídia tinha horror a quem pedia explicações de seus quadros.
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