Apesar de atingir muitas escolas, bullying tem solução
Durante o desenvolvimento, as crianças atravessam fases de insegurança e frustrações e podem reagir demonstrando certa agressividade. Eventualmente a expressam por meio de beliscões, puxão de cabelos e ameaças nos corredores e salas de aulas dos colégios. Se estas cenas se tornam freqüentes, é um sinal de alerta trata-se do fenômeno chamado bullying, palavra inglesa usada em todo o mundo para designar atos de violência repetitivos e intencionais praticados por um ou mais alunos contra outro(s). Um tema que requer a pronta intervenção de estudantes, professores e pais. Pesquisa realizada pela Associação Brasileira Multiprofissional de Apoio à Infância e à Adolescência (Abrapia), em 2002, envolvendo cerca de 5.800 estudantes de 5ª a 8ª séries no município do Rio de Janeiro, revelou que 40,5% dos alunos estiveram envolvidos, seja como autores ou como alvos, em atos considerados agressivos. Segundo o estudo, as razões que levam a esta estatística são nítidas. Além de uma simples descarga de emoções, crianças e adolescentes hoje reproduzem, junto aos colegas, a violência da qual são vítimas ou pelo menos espectadoras. Nesse contexto, a escola é apontada como o principal cenário de intimidações, agressões, humilhações, assédios, difamações, apelidos, isolamento, dentre outros comportamentos agressivos. Segundo os especialistas, o preço a pagar é alto. "As crianças que já sofreram qualquer forma de bullying, em geral, demonstram estresse e angústia. Não raro mergulham em profunda depressão e alimentam pensamentos suicidas. Por sua vez, o autor da agressão corre o risco de perpetuar este comportamento, tornando-se delinqüente e marginalizado. Todos os alunos, até mesmo os não envolvidos, costumam ser afetados, reagindo com desatenção, insegurança e medo", explica o médico Aramis Lopes, membro da comissão técnico-científica do Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes da Abrapia.
No Brasil, segundo Aramis Lopes, o assunto só tomou vulto a partir de 2004 quando relatos de ocorrência do fenômeno e notícias sobre programas de combate de outros países vieram a público. Para solucionar o problema, há ainda muito a ser feito. "Algumas escolas já estão desenvolvendo suas estratégias de forma independente, o que se justifica, uma vez que o problema é complexo e de causas múltiplas. No entanto, desconhecemos a existência de qualquer programa mais amplo sendo implementado pelas secretarias estaduais ou municipais de educação", acrescenta o médico. Consultada sobre o assunto, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), do Ministério da Educação, assume não ter um programaantibullying específico. Mas, segundo o órgão, existem políticas para a prevenção do racismo, da homofobia, da discriminação de gênero e regional nas escolas. Para subsidiar os professores a não cometer nem deixar que seus alunos cometam estes tipos de violência, é desenvolvido um trabalho de capacitação em parceria com as secretarias municipais e estaduais de educação e ONGs. São realizados cursos e ciclos de palestras com a utilização de cartilhas, vídeos, sites e outros materiais didáticos. Se ainda há muito a fazer, alguns passos importantes já foram dados e servem de modelo. O Programa Educar para a Paz, elaborado pela professora Cleo Fante, é um dos que merecem destaque. Doutora em Ciências da Educação pela Universidade de Ilhas Baleares (Espanha) e pesquisadora do tema, ela desenvolveu o projeto entre agosto de 2002 e dezembro de 2003, na Escola Municipal Luiz Jacob, colégio de Ensino Fundamental localizado na periferia de São José do Rio Preto (SP). Estrategicamente situado entre duas rodovias, o bairro onde fica a escola se transformou em reduto do tráfico de drogas e de extrema violência. Quem fala com entusiasmo da experiência é Corintha Medeiros, diretora da escola na época. "Havia 495 alunos (de 1ª a 8ª séries) e começou a ser detectado um aumento dos casos que os autores franceses chamam de 'incivilidade' e os ingleses de 'bullying'. Na verdade, jamais tivemos notícias de casos de homicídio ou assalto em nossas dependências, porém sabíamos que alguns alunos e ex-alunos iam para a Febem, por infrações cometidas fora dos muros da escola", lembra.
O Programa Educar para a Paz é fundamentado em princípios de solidariedade, tolerância e respeito às diferenças. Estuda-se a possibilidade de sua implantação em várias escolas particulares de todo o Brasil. Assim como nos colégios da rede pública, nestas acontecem casos de violência contra os colegas, os professores e até o patrimônio escolar é dilapidado, sob um tipo de visão muito comum entre crianças e jovens de hoje: "posso destruir porque estou pagando". Uma das entusiastas da idéia é a presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe), professora Amábile Pacios. Ela defende a necessidade urgente de tornar os programas antibullying uma política pública e de levar a discussão não só a algumas, mas a todas as escolas do País. "A violência tem caráter epidêmico. Isto significa que se não tratarmos o assunto com a atenção merecida, nós seremos atingidos por ela, de uma forma ou de outra", alerta.
*Jornalistas Amigos da Criança é um projeto da ANDI. Autora do texto: Sylvia Leal, ex-editora da revista Pais e Filhos, é Jornalista Amiga da Criança desde 1997. |
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